A mudança é lenta
O mito de Sísifo, consiste num mito onde um homem é punido pelos deuses a levantar uma rocha pesada montanha acima, apenas para no final, cair sob ele no fim do dia. E todos os dias, Sísifo é punido da mesma forma
Ryan, grande amigo e exemplo no início da minha carreira como programador, em uma bela tarde de caminhada e leitura, acabou por me ensinar algo que leu em O Poder do Hábito. Dizia-se que apenas 30% dos americanos que voltaram da guerra do vietnã, que eram viciados em heroína, voltaram ao uso quando chegaram.
Acontece que foi dirigido um estudo para entender como e porque muitos soldados deixaram de ser viciados quando voltaram, sendo que a única semelhança entre eles era o fato de que todos estiveram servindo em um país estrangeiro. Em resumo grosseiro, descobriu-se que os gatilhos que levavam ao uso da heroína não mais existiam em suas casas, logo o vício dissipou-se.
Um hábito é algo extremamente forte. Não se pode esperar que ao deixar um hábito ruim logo de cara, você vá se acostumar com a falta dele. Na verdade, somos seres adaptáveis. Como você verá por diante, embora saibamos exatamente aquilo que nos machuca e fere, muitas vezes, permanecemos pois é um hábito e um hábito é algo que faz parte da nossa vida, até deixar de ser saudável, nesse momento, devemos expurgar este mal.
Assim eu fiz com meu hábito de jogar Valorant. Embora há muitos anos eu tenha perdido boa parte do brilho nos olhos por qualquer jogo, esse em específico dá exatamente o que um jogador mais veterano espera. Uma boa medalha e reconhecimento por sua notável perícia.
É até cômico se não fosse triste. Ficar feliz com um reconhecimento, no mundo não virtual, com um item que só existe em um database e na mente daqueles que jogam o mesmo jogo. Não se pode comprar uma caixa de leite com um elo ouro do Valorant. Quase beirando o impossível deixar uma mulher atraída porque você joga um videogame e é bom nele. E mesmo assim, os homens continuam jogando.
As vezes eu me sinto cercado de tolos e idiotas. Pessoas ignorantes, indiferentes com tudo que está sob suas vistas, bem abaixo de seus narizes. E deve-se imaginar, que quando me sinto nesse circo, sou o maior palhaço, pois não vejo minha ignorância. Sentir-se único e diferente é uma característica inerente a todos, visto que nosso papel no nicho social é competir entre si. Foi assim basicamente que o homem foi a lua, em uma competição quase sangrenta chamada guerra fria.
Em síntese, se observarmos o fenômeno pelo qual se adquire um hábito, podemos entender que esse comportamento ainda que maléfico à nossa saúde, no instante em que se dá conta de sua ausência, este faz falta. Nesse exato momento, estou sentindo falta de jogar um vavazinho. Passar uma boa raiva, ter algum insight novo, uma nova habilidade. Essa dopamina garantida me infectou. Agora as minhas outras atividades acadêmicas não são mais interessantes, não pareço me importar se eu vou crescer.
Estou cansado de sentir pena das coisas ao meu redor. Eu leio, estudo, malho, trabalho, e ainda parece pouco. Que diabos eu espero ? Preciso de um novo hábito. O hábito de terminar as aulas. Quando você termina o que começou, isso cria uma sequência em cadeia, onde você sempre espera o final dos seus objetivos. É importante dar um basta a certas atitudes mesquinhas que tomamos, em nome de um sentimento maior e pleno de contentamento e alegria.
Por isso a mensagem que deixo aqui é para prestarem nota sobre a punição de Sísifo. Quanto mais seus hábitos ruins são empurrados montanha acima, no final do dia, é sob você que irão cair. Há de ter algo bonito para se ver enquanto empurramos nossas rochas, assim como sugeriu Albert Camus no livro O Mito de Sísifo. Contudo, não deixa de ser um castigo.